Maratona: O Melhor do Crime Nacional Dia #02

em segunda-feira, 5 de agosto de 2019


Ep. 02: Para Sua Segurança Mantenha-se Atrás da Faixa Amarela



“Todos temos por onde sermos desprezíveis. Cada um de nós traz consigo um crime feito ou o crime que a alma lhe pede para fazer.”

Fernando Pessoa


No nosso segundo dia de Maratona d’O Melhor do Crime Nacional, que encontra-se em campanha pelo catarse - https://www.catarse.me/crimenacional - vamos trazer um pouco do processo de escrita do conto Para Sua Segurança, Mantenha-se Atrás da Faixa Amarela, da escritora Julia do Passo Ramalho.

“A premissa do conto Para Sua Segurança Mantenha-se Atrás da Faixa Amarela, já rondava há algum tempo meu imaginário. Alguns anos atrás, li o que se tornou minha serie literária favorita: A torre Negra. Nos livros, uma das personagens havia sido empurrada na frente de um trem de metrô, tendo perdido as pernas por conta do acidente.

Como não dirijo, faço bastante uso do transporte público. E desde minha infância sempre fui apaixonada pelo metrô. Me encanta caminhar em túneis por baixo da cidade. Mantenho a crença que no metrô estamos em outra dimensão temporal.

Por vezes ao aguardar o embarque, ouvia a famosa chamada: Para sua segurança mantenha-se atrás da faixa amarela. E imediatamente notava meus pés, costumeiramente a frente do limite indicado.

Assim incluir o metrô em uma das minhas histórias me pareceu natural. Como também sou psicóloga, a sociopatia, traço constituinte dos assassinos em série, naturalmente é um assunto que despertava meu interesse.

Ao ver o edital do Melhor do Crime Nacional, ambas as temáticas se juntaram em minha mente. Escrevi o conto em uma sentada. Sem dúvida esse trabalho, foi um dos mais prazerosos que pude escrever.
Espero que gostem de ler o tanto que eu gostei de escrevê-lo.”

Ah. E não paramos por aí. Que tal ficar com ainda mais água na boca e experimentar um pouquinho do conto da Júlia?

“Eu descobri a morte aos dez anos. Foi um porquinho da índia chamado Tito. Eu havia ganhado ele de aniversário, não foi o presente pedido por mim. Eu queria um kit de jovem cientista, com tubos de ensaio, microscópio e até uma pequena variedade de produtos químicos. Ao invés disso, ganhei aquela coisinha irritante e fedida. O pior eram meus pais brigando comigo e me obrigando a limpar e cuidar do bicho asqueroso. Eu não gostava de animais. Eu não gostava das outras crianças, eu nem mesmo gostava dos meus pais. Eu os aturava com um falso carinho e respeito, pois eles me eram necessários e mesmo muito nova tinha consciência disso.

Voltando ao Tito, eu não só desgostava daquele animal. Eu o odiava. Ele me lembrava do presente tão desejado e não ganho, ainda por cima era o motivo de broncas e obrigações aborrecidas. Por isso o matei. Eu reportei aos meus pais do sumiço de Tito, disse isso com lágrimas e soluços milimétricamente ensaiados. Fui até consolada na ocasião de sua falsa fuga. Enquanto minha mãe me abraçava, eu sonhava em contar a verdade. Eu havia afogado o desgraçado na privada.”

Para saber mais sobre o projeto e ter esse livro em mãos, você pode apoiar o projeto no catarse.

Lembrando que, como consta lá no catarse: Durante o edital foram recebidos mais de 100 contos de todo o Brasil. Enredos dos mais distintos nichos e que fariam o leitor caminhar por sua cidade, ou pensar em viagens pelo país, com o olhar inusitado de quem desconfia, ou se lembra, de onde está pisando. 

E, dessa centena de concorrentes, após a curadoria, os organizadores optaram por ampliar as vagas e selecionar 15 autores, além dos convidados e organizadores.

Vamos ajudar esse projeto de Literatura Nacional, que vai dar vida a histórias incríveis de 18 talentosos escritores tupiniquins.

E se quiser conhecer mais o trabalho da Julia, acesse: @juliadopassoramalho no instagram.

Até a próxima, folks!

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