Golem e o gênio

em sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Autor: Helene Wecker
Gênero: Fantasia / Fantasia Urbana | realidade fantástica
Páginas: 514
Editora: DarkSide Books


Golem e o Gênio conta a história de uma mulher feita de barro e de um Djin (um ser do elemento fogo) que chegam à cidade de Nova Iorque no começo do séc. XX depois de uma longa viagem. Quero dizer, uma viagem de uma semana para a Golem e de mil anos para o Djim.

Inicialmente, o que se passa com cada um é contado em capítulos paralelos até que, lá pelo capítulo XI eles finalmente se encontram. E essa passagem é marcada com um tipo de lirismo e muita cautela por parte dos dois protagonistas.

Logo de cara, sabemos quem é a Golem, para o que foi criada e acompanhamos o seu desenvolvimento até ela finalmente receber um nome: Chava. Quanto ao Djim, que recebe o nome de Ahmad, há toda uma cortina de mistério, já que ele não lembra como foi parar em uma garrafa. E as peças para esse quebra cabeça vão se montando ao longo de 29 capítulos + Epílogo.


O livro é um verdadeiro passeio de época por Nova Iorque, levando o olhar para as periferias pobres de imigrantes árabes e judeus.

O desenrolar do relacionamento entre Chava e Ahmad é cheio de nuances e pontos delicados de equilíbrio, postos à prova praticamente todo o tempo. A natureza de ambos é extremamente distinta: Ela é inocente, recatada, conformista, responsável e cautelosa na mesma medida em que ele é impulsivo, irresponsável inconsequente, passional e impetuoso.

O que achei de mais encantador nesse livro é o paradoxo enterrado nos protagonistas: eles são assustadoramente fortes, capazes de coisas incríveis e ao mesmo tempo extremamente frágeis e dependentes, tentando encontrar um espaço no mundo em que despertaram.

Não há cenas de ação intensas, o livro todo é uma teia de pequenos acontecimentos intricados. Uma pequena falha e logo tudo é posto a perder, assim como na vida real.

O drama se desenrola no cotidiano dos protagonistas e em como eles constroem seus relacionamentos com as pessoas ao redor. A sim, ia me esquecendo de comentar a quantidade absurda de personagens satélites nessa história. São todos muito bem desenvolvidos, e ganhando cada um,  descrições longas de chateantes. Sério, eu não precisava saber como um ifrit foi parar na cabeça de Saleh Sorvete mas em fim...

 A cada novo personagem que aparecia, eu levantava a sobrancelha e fazia bico. “Quero só ver como essa escritora vai dar uma função para todo mundo no final”. Para minha surpresa, sim, Helene Wecker consegue usar todo mundo no final, mostrando como cada um daqueles personagens apresentados tinham algo para contribuir com o desfecho.

Mas nem tudo são flores e foi impossível ignorar os momentos em que a narrativa se arrastou. Encontrei várias palavras grafadas erradas, erros de concordância e pelo o que me lembro, apenas um pastel (quando duas palavras estão juntas na impressão, sem espaço entre elas), sem contar o tempo verbal indeciso: ora no passado, ora no presente. Apesar disso, achei a tradução bem competente e mesmo que a revisão tenha falhado, para um livro volumoso como esse a quantidade de erros que encontrei são até “passáveis”.

Ainda achei que alguns personagens foram mal aproveitados, como Michel Levy e Saleh Sorvete. Aliás, Michel Levy não foi só mal aproveitado como também se tornou uma decepção para mim. Eu esperava mais dele. sério. Mesmo.

Há um local que é citado pelo menos umas 4 vezes e — nem preciso dizer que ele está na capa do livro, né? — pelo foco que esse lugar recebeu, imaginei que algo fosse acontecer lá. Só que não. Pelo visto era só um lugar que o Ahmad achava legal e fim. Tive que me conformar com isso. Tisc.

Leitura recomendada para quem curte romance de época, fantasia urbana e realidade fantástica e para quem adora colecionar livros também. Essa edição que a DarkSide produziu está lindíssima, com capa dura, aplicação em dourado, ilustrações e fita de cetim para marcar as páginas. Um absurdo de lindo.

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