Resenha - Uma Guerra de Luz e Sombras

em terça-feira, 6 de maio de 2014










A História


O cenário de Uma Guerra de Luz e Sombras é a cidade de Las Vegas, onde uma força tarefa é montada para agir com mais liberdade contra o crime de narcóticos, que tinha se transformado num problema bem pesado para o governador. Mas na verdade é só para deixar a imagem do governador bem bonita perante o povo... Logo no inicio a ambientação nos deixa a vontade, lembrando muito o clima de seriados policiais. Os escolhidos para formar a força tarefa são cinco rapazes, que apesar de já fazerem parte da polícia, têm um currículo duvidoso: Al, Carlson, Ken, Eduardo e Danny (opa! Danny... okay. Aqui começou minha série de identificações...). Como a primeira missão acaba sendo um desastre, um novo membro é adicionado à equipe: Theodore Lanark, que tem o objetivo de organizar e unir os rapazes. Sob seu comando o grupo se torna mais coeso (vira uma família, para ser sincera. Adoro a forma como ele se refere à sua equipe, como “meus garotos”) e logo começa a ter um certo reconhecimento e sucesso, invejadíssimo pelos outros departamentos de polícia, que começam a desenhar suas insatisfações, deixando a “Força Tarefa” de Lanark mal vista. Mas ele não está nem aí, e essa característica de não ligar para o que os outros pensam é muito forte no tenente, tornando-o um dos personagens mais marcantes do livro (na minha humildíssima opinião).


O protagonista se chama Danny Sheley, um moço com dons mediúnicos (cheguei a essa conclusão sozinha, mas você está livre para entender o que quiser) que é um dos integrantes da Força Tarefa. Como se não bastassem os esqueletos que ele já guardava no armário, sua vida muda radicalmente depois que sua equipe começa a investigar um grupo criminoso muito esquisito e peculiar, que servia a um magnata, que está mais para o vilão mais hediondo, mais cruel, mais coisa-ruim e demoníaco de todos os tempos. E para o desespero do leitor, Danny acaba caindo nas garras desse demônio (Aqui as cenas me assustaram tanto que me lembro de nessa noite não conseguir dormir, ouvindo gemidos, senti cheiro de sangue, de enxofre. Nessa noite eu assisti uma comédia bem boba, bem burra. Mas eu não consegui dormir mesmo assim. No dia seguinte cheguei ao trabalho com uma cara péssima).
Na tentativa de resgatar o amigo das garras imundas e demoníacas de De La Cali, os integrantes da força tarefa buscam pela ajuda de Landau, um haitiano que está no mundo do crime, mas que tem uma ligação fortíssima com um tipo de magia que não conhecemos muito: o Vodu. Landau é misterioso e encantador.  As coisas conseguem ficar ainda mais estranhas quando mais um membro é adicionado aos vigilantes: Billie Jean Sparks, uma policial com um pé no mundo místico. Ela foi uma personagem a quem me agarrei com unhas e dentes. Sua presença tornou a leitura mais leve e divertida. Em cada capítulo em que ela estava lá me fazia respirar aliviada, embora o medo do terror do início me fizesse sentir o peito estremecer e o estômago revirar. Mas ela estava lá mostrando que nem só de crueldade, maldade e violência vive o pessoal de Uma Guerra de Luz e Sombras, e me peguei rindo várias vezes das passagens bem humoradas do livro. Uma das minhas cenas preferidas se passa dentro de um carro, em que um parto tem que ser feito sob uma saraivada de tiros e solavancos, pois estão em pleno movimento fugindo da perseguição de bandidos barra pesada!

E quando as feridas pareciam doer menos o terror voltou... de um modo que eu não poderia imaginar, de um modo que eu não gostaria de encarar. Para quem tem a alma sensível ou um gosto por leituras mais suaves, vai apanhar um bocado, pelo menos, eu apanhei muito, por que lá no fundo eu não aceitava tanto sofrimento, tanta crueldade. Não, eu não aceitava. E quando não aceitamos temos um pânico do inaceitável bater na nossa cara e dizer que ele existe e está bem ali na nossa frente. Então negamos com todas as forças. Eu neguei. Eu sofri e doeu. Mas sobrevivi bravamente ao início do livro e quando virei a última página entendi que a mágica de um bom livro não é enveredar pelo o que esperamos, mas se manter fiel ao que a história exige, aos caminhos dos personagens. Houveram momentos de alegria, momentos fofíssimos, mágicos, tensos, cruéis e sobrenaturais. E sei que esse livro não poderia terminar de outra maneira: os personagens não cresceriam tanto se não tivesse sido de outra forma.



Impressões...

Sobrenatural. Já que toquei nessa palavra, me atrevo a dizer que Uma Guerra de Luz e Sombras surpreende não só pelo seu poder de imersão e de imagem, mas também pela ligação com eventos sobrenaturais que é feita gradativamente, pulsando como sinais que nem sempre estamos dispostos a ver. Um dos desafios mais complexos que os personagens tiveram de enfrentar foi o processo de aceitação de que existem coisas que a racionalidade não pode conceber e que é exatamente por isso que temos de nos manter abertos para tudo que foge aos olhos. Do contrário, podemos nos vestir com a armadura da ignorância e erguer um muro de desculpas para mascarar nossa covardia.
Toda a galera de U.G.L.S. foi desenvolvida com a precisão cirúrgica de quem conhece a alma humana e sabe que o impossível não é uma palavra que vibre na mesma frequência do que um dia poderemos ser através de nossas escolhas. São todos maduros e completos, com suas qualidades e defeitos, com suas manias, tiques, vícios, fraquezas e forças.
O projeto gráfico da capa é incrível, e a diagramação nos deixa muito confortáveis, pois o livro tem 608 páginas, e mesmo assim a leitura flui rapidamente! Os capítulos não são longos, o que torna a leitura muito mais dinâmica. Normalmente eu diria que devorei o livro, mas a verdade é que fui devorada por essa leitura. Se isso é bom ou ruim, não sei, mas o fato é que uma Guerra de Luz e sombras é fantástico e merece ser lido sem ressalvas e pré – conceitos. E mesmo que você os tenha, garanto que quando terminar estará tão nu quanto eu, totalmente despido de ideias pré- concebidas e talvez até disposto a deixar de lado aquele orgulho de ser alguém que acha que já sabe tudo, que já viu de tudo.
Quando a própria Eddie falou sobre o livro, eu jamais poderia imaginar o quão denso, violento, inquietante, cruel e dolorido ele realmente seria. Até Lê-lo. Existem alguns raros livros que não nos oferecem a opção de não mergulhar. De não vestir a pele de cada personagem, de não sofrer nem dividir os medos, alegrias, anseios e amores. Eles simplesmente te arrastam com ondas gigantescas para o fundo do mar, e não, você não virá à tona enquanto não terminar de ler.

Uma Guerra de Luz e Sombras é assim. Um oceano, com tsunamis e furacões, um terreno instável pronto para abrir sob seus pés e tragá-lo para um mundo de escuridão e rutilância...  Cheguei a pensar que isso se devesse a minha imaginação altamente impressionável. Mas havia muito mais. Uma Guerra de Luz e Sombras tem vida própria, e cada um dos personagens poderia ser qualquer um de nós e nós poderíamos ser todos eles.  E é exatamente isso que torna a leitura tão assustadora: A realidade. Que funciona nesse caso como os tijolos e a fundação da ficção. Ficção? Não... Uma guerra de Luz e sombras é um universo paralelo, perigosamente próximo a nós... onde entramos em contato com nossos piores medos e descobrimos outros que nem fazíamos ideia que pudessem existir, é onde entramos  em choque quando nossas crenças e convicções são postos a prova e sentimos na boca o gosto amargo do pânico, do sofrimento e da impotência de não passar de um mero expectador.  E essa impotência adquire graus cada vez mais inimagináveis quando você se vê refletido nos personagens. Há algo de você ali dentro. A história está viva e pulsa em cada um de nós.

Durante toda leitura sofri com palpitações, chegava em casa de estômago embrulhado, o corpo dolorido, a cabeça girando. Eu não queria assimilar. Era muita dor, MU-I-TA DOR.

Para terminar, preciso deixar claro que uma Guerra de Luz e Sombras esgruvinhou meus medos, virou muitas chaves aqui dentro e destrancou muitas janelas, para deixar o sol entrar através de mensagens como lealdade, coragem, fé, esperança e força. E Não. Nunca  seremos tão bonzinhos ou tão mausinhos quanto gostaríamos de imaginar. Somos complexos demais para caber em rótulos e ingênuos demais para achar que podemos rotular tudo.

Pois é... Acabei aprendendo que as coisas mais fantásticas que podem acontecer conosco precisam de um espaço só delas em nossas vidas. E você, está pronto para encarar uma leitura que é capaz de te trazer tudo isso? Espero que sim e boa viagem!

 A Escritora:




 Para saber mais sobre a autora do livro visite suas páginas na internet:  Facebook  Alcateia   Revista Wicca 
 Eddie Van Feu escreve desde que conseguiu segurar um lápis pela primeira vez. Trabalhou em diversas áreas, mas nunca deixou de contar histórias. Entrou para o mercado editorial com a Editora Escala, onde trabalha até hoje como integrante do conselho editorial. Dentre suas principais publicações estão Anjos, Wicca, Alcatéia, Contos de Leemyar, O Portal,  Lua das Fadas, O Trono Sem Rei e agora, a Trilogia Uma Guerra de Luz e sombras.


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