Anjo na Gaiola

em segunda-feira, 31 de agosto de 2020

 


Autor: Walter Tierno

Editora: Sisko

Gênero: Drama, adolescente

Páginas: 176


"Morar num mundo vazio não é gratuito."

Uma garota que está prestes a fazer quinze anos, encontra um anjo no seu quintal. Ele é pequeno e se diz seu anjo da guarda, que caiu de uma nuvem enquanto a observava e agora não pode mais voltar para casa.

A Menina leva o anjo para o seu quarto e o guarda numa gaiola que ela ganhou da avó. O Anjo não fala muito, mas quando fala, traz uma notícia que abala a garota: o mundo está prestes a acabar e ela pode evitar que isso aconteça, contanto que mate o próprio pai, antes que ele aperte o botão do apocalipse.


Impedir o fim do mundo já é uma tarefa inimaginável de tão difícil. Imagine então ter que escolher entre salvar o mundo e matar seu pai, ou deixar seu pai viver, mas deixar que o mundo acabe. Dá um nó na cabeça de pensar, né? Agora pensa em tudo isso de novo com a cabeça que você tinha aos quinze anos.


A narrativa de Anjo na Gaiola começa de maneira simples, quase pacata. Vai apresentando a protagonista e o seu mundo, sua rotina, seus medos e inseguranças. Sua solidão. E quando percebemos, estamos tão envolvidos com o drama da Menina, que suas dores se tornam nossas através de capítulos curtos e precisos.


O Anjo é uma coisinha irritante e fala sem papas na língua. Ele contradiz totalmente a ideia de anjo que a gente costuma ter. Em vez de ser alto e cheio de boas mensagens usando uma túnica branca e segurando uma harpa, é, na verdade, um serzinho minúsculo e portador de más notícias. Ah, ele também é impaciente e ranzinza.


Anjo na gaiola é uma história com poucos personagens. Cada um deles, consistente. E todos orbitam ao redor da protagonista, que aliás, não tem nome. Quero dizer, ela tem, só que ninguém chama seu nome, ela mesma não diz e a gente passa toda a leitura a chamando de Menina. Assim, com M maiúsculo mesmo.


Coisas que me encantaram: a protagonista não ter nome; os diálogos serem construídos como nos roteiros de teatro. Os relatos dos personagens em primeira pessoa. E por fim, mas não menos importante, a história, que se divide em dois momentos bem distintos e o que posso dizer é que, quanto mais o leitor se identificar com a protagonista, mais catártica será a leitura.


Eu comecei e parei a leitura de Anjo na gaiola várias vezes antes de engrenar. Não porque o livro parecesse chato. Pelo contrário. Eu sentia que tinha ali, entre aquelas páginas, algo que ia me tirar do chão, que ia me levar pra longe e que ia me deixar fora de órbita. Eu nem sabia porquê, mas sabia que seria assim. E foi mesmo.


Fazia tempo que um livro não me fazia chorar e me sinto muito grata por isso. Por encontrar sentimentos nas palavras, ecos reais nos personagens, por me identificar de tantas maneiras.


Anjo na gaiola é um livro emocionante. Uma história profunda, cheia de nuances que permeiam a realidade e nos fazem lembrar o quanto somos frágeis e de como nos esquecemos disso. Uma história que nos convida a viajar pela mente de uma garota solitária que assiste seu mundo ruir para então reconstruir a si mesma. E posso dizer que é lindo vê-la desabrochar.


Vou ficando por aqui e…

Até a próxima folks!


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