Quero andar de mãos dadas

em sexta-feira, 30 de junho de 2017


Autor: Victor Lopes
Plataforma: kindle
Publicação Independente


Jonhy e Nicholas tem 16 anos, moram na mesma cidade e se encontram por puro acaso: Nicholas é primo da melhor amiga de Jonhy e foi numa pizzaria aleatória, numa noite aleatória, numa cidade por aí que eles se encontraram. E assim começou a história de amor de “Quero andar de mãos dadas”.

Um YA delicado, dramático e envolvente. Mas vamos lá, que tem muita coisa pra rolar nessa resenha ainda!

Desde o inicio, recebemos a informação: Jonhy é um garoto que busca esconder suas dores atrás de seu semblante alegre e de um nada verdadeiro “eterno bom humor”. Do outro lado temos Nicholas, o garoto perfeito, exemplar, amado e admirado por todos, mas que carrega um peso no peito tão imenso, que só consegue ver a si mesmo e a sua vida como uma grande mentira. Jonhy é um adolescente gay, assumido, com uma família problemática.  Nicholas é um adolescente gay não assumido e isso o vem destruindo, mesmo que a sua família seja perfeita como um comercial de suco.

Eu poderia até dizer que o maior conflito da história seria a questão do Nicholas assumir sua orientação sexual, seu amor pelo Jonhy e enfrentar o que tivesse para enfrentar. Mas as coisas, assim como na vida, são um pouco mais complicadas. Nicholas é um exemplo de que nós somos o nosso maior inimigo e que uma das experiências mais frustrantes na vida é tentar salvar as pessoas delas mesmas.

Apesar de toda a pressão psicologica e toda carga dramática pelas quais os protagonistas passam, a descoberta do primeiro amor foi tratada com tanta delicadeza, que virou quase uma poesia, sabe? Quem nunca ficou horas trocando mensagens com o crush e teve que tomar coragem para se declarar? E quando a gente tem que ser mais que um namorado para entender o outro?

Quero andar de mãos dadas fala sobre preconceito, superação, depressão, primeiro amor, auto descoberta, e principalmente, sobre empatia: Não importa qual sua orientação sexual, sua cor, sua religião, posição financeira ou social. No final, somos todos humanos. É fácil apontar o dedo para os outros quando ignoramos totalmente os desafios e demônios internos de cada um.   Então essa leitura me impactou de diversas formas positivas.

A Narrativa é em primeira pessoa, revezando entre os protagonistas, nos dando a oportunidade de, por alguns instantes, estar na pele deles e compreender suas dores, ansiedade e aflições.

Outro ponto importante desse livro: Diversidade. Às vezes a gente ouve tanto uma palavra, que ela se torna quase um objeto, mais uma coisa que está compondo um cenário. E quando pegamos um material que mostra a diversidade ao invés de simplesmente citá-la, é algo realmente gratificante e dá vontade de abraçar o autor e dizer: obrigada. Obrigada por não deixar de publicar, por ser autor independente e mostrar que ainda tem muita coisa boa não explorada pelas editoras.

Como se trata do livro de estreia do autor, confesso que comecei a leitura um pouco com o pé atrás, e sim, existem pequenas coisas no texto que precisam ser melhoradas,  como a ambientação da cidade onde se passa a história (embora eu ache que isso tenha sido proposital. O lugar onde a história se passa pode mesmo, de verdade, ser qualquer um), e no início, as vozes dos protagonistas se confundem um pouco. Mas depois que conhecemos cada um, o livro engrena, tornando Jonhy e Nicholas praticamente físicos. No saldo final, esses detalhes não comprometem a qualidade do trabalho nem o envolvimento com a leitura.

E mesmo tendo amado o livro, os personagens sofrem bastante e isso me machucou um pouco. Acredito que as pessoas tenham direito à felicidade e sobre tudo, de serem elas mesmas. Então ainda sinto falta de materiais LGBT com mais alegria e menos dor: finais felizes foram escritos para todos.

Leitura recomendada para quem curte YA, temática LGBT e para quem, no final das contas, gosta de ler uma boa história.

Por enquanto, "Quero andar de mãos dadas" está disponível apenas na versão e-book e pode ser comprado na Amazon.


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